Na noite de 12 de outubro de 54 d.C. dançarinas seminuas exibiam em voluptuosos movimentos seus atrativos físicos diante do leito do imperador Cláudio, que se mantinha impassível diante do espetáculo. A cena não seria digna de menção, não fora a razão da indiferença de Cláudio: ele já estava morto, assassinado pela imperatriz Agripina, para possibilitar a ascensão ao trono de seu filho de dezessete anos, Nero. Como os augúrios dos astros naquela noite não eram bons para a aclamação de Nero imperador, era necessário encobrir a morte de Cláudio até o dia seguinte. Para que não houvesse nenhuma suspeita, as jovens foram chamadas a dançar -- diante de um cadáver.
A partir desta cena Philipp Vandenberg inicia sua grande biografia sobre o mais extraordinário dos imperadores romanos, o qual só a contragosto assumiu o poder que lhe era oferecido; afinal, jamais escondera que a dignidade imperial simplesmente não lhe interessava. Queria, isso sim, ser escultor, pintor, cantor, um artista enfim, ou condutor de carros de corrida. Mas imperador? E ainda tão jovem?
Abandonando a seus generais nas expedições militares contra os germânicos e os bretões, Nero se reservou como campo de batalha o teatro e a arena. É ai que reencontra suas vitórias. Após um reinado de quatorze anos, Nero renunciou à vida na alcova de um ser liberto. Pediu que lhe cavassem uma sepultura e, enquanto assistia a essa operação, lágrimas lhe escorriam pelas faces ao mesmo tempo em que balbuciava: "Que artista! Que artista morre comigo!"