O valor desta grande reportagem investigativa sobre a psicanálise contemporânea pode ser medido pelo sucesso que o livro de Janet Malcolm faz no mundo todo mais de 20 anos após a sua publicação (1982). E este sucesso é conseqüência do estilo límpido e conciso com que a autora penetra na rede conceitual que circunda a análise freudiana, enquanto leva adiante a “inquisição” a Aaron Green (pseudônimo), um analista ortodoxo de Manhattan que aceitou colocar-se na posição de entrevistado.
Em poucas páginas o leitor compreenderá, fascinado, que está ingressando no mundo reservado, incompreendido e as vezes até ridicularizado dos psicanalistas; a princípio com a sensação de ser apenas um voyeur, para logo se dar conta da importância e da eficácia daquele espaço intencionalmente produzido para que o processo psicanalítico possa ser colocado em funcionamento. São estes justamente os segredos que o livro desvenda: a natureza da análise, as limitações da “cura” pela fala e as paixões que a relação analítica - muito artificial, em sua natureza surpreendentemente anormal, contraditória e tensa - desencadeia em ambos os participantes. Sendo a mais impessoal das relações íntimas, a autora mostra através de Aaron Green como o papel do analista se constitui num espelho neutro e auto-anulador para permitir o auto-exame do paciente. E como esta posição afeta os sentimentos do profissional, a avaliação que ele faz de seu trabalho e do progresso da sua formação.
Acessível sem ser vulgar, este livro escrito para a leitura de leigos, estudantes e curiosos apresenta a atualidade e o vigor da psicanálise, uma prática aqui apreendida em toda a radicalidade com que foi concebida por Freud.