O título O Fim do Presente foi um empréstimo do nome de um capítulo de
A ordem do Tempo, de Carlo Rovelli, no qual o autor nos explica que faz pouco sentido,
em termos cósmicos, falarmos sobre um agora. O que existe são infinitas ilhas com
bordas estreitas (claro, nos termos do universo) de um presente específico. Como
se o nosso entendimento do presente fosse sempre parcial, e camadas e camadas
se sobrepusessem em um turbilhão. Nos fascina pensar estes vários presentes
ocorrendo simultaneamente. Leibniz dizia que este era um dos predicados de deus:
pensar as infinitas configurações da realidade e escolher uma única, enquanto as
outras seriam deixadas como fantasmas em sua imaginação. Fantasmas, no caso,
é como chamamos muitas coisas, além das caricatas criaturas das histórias de
horror, ou das figuras recobertas por lençóis: são estas formas de vida que nos
moldam, são as vozes dos mortos que nos falam todo o tempo (esta língua que você
lê é feita de romanos já decompostos), são seus desejos contraditórios e secretos,
são seus deuses operando nos seus sucessos e infortúnios. São estes fantasmas que
convocamos para O Fim do Presente.
Neste livro, cada autor/a recebeu a imagem de uma das obras da exposição
Tempo como Verbo (sem mais informações, quase como quem recebe uma carta
anônima), que lhe serviu de ponto de partida para a criação de um conto.
Esta operação deu-se como se fosse possível extirpar um instante, podá-lo e,
cuidadosamente, enxertá-lo em uma nova realidade que gestasse outro passado e
outro futuro.
Assim, cada escritor/a animou a imagem que recebeu com uma nova
história. Um solitário farol foi deslocado no tempo, anéis perdidos no mar foram
urdidos com lembranças da infância, um breve romance envolveu uma musa
com sapatos de gelo... Novas tramas foram tramadas, outros caminhos cruzados.
Nos interessa apontar esta sobrevivência da imagem na corrente do rio do
tempo: sua gana de existir e se propagar. O jogo oriundo de seus ecos, seus mal
entendidos, malditos e epifanias é o que queríamos conjurar quando convidamos
Vitor Diel para formar esta confraria: Atena Beauvoir, Davi Koteck, Jeferson Tenório,
José Falero, Juliana Maffeis, Mariam Pessah e Taiasmin Ohmacht.