Educação - Corpo, Vivência e Espiritualidade

Após dois anos de organização e produção, nosso livro está pronto para ser lido e vivido. A ideia foi imaginada na disciplina Educação: vivência, corpo e espiritualidade, da linha de pesquisa Aprendizagem, tecnologias, linguagens na Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEdu) da UNISC, e foi sendo nutrida pelo grupo de pesquisa PEABIRU: Educação Ameríndia e Interculturalidade, a partir do projeto de pesquisa Aprendizagens Interculturais Guarani e Kaingang na Educação Básica, que integra tanto o PPGEdu, quanto o Programa de Mestrado Profissional de Psicologia da UNISC. Temos buscado, dentro de um tempo contínuo e perseverante, o enlace sensível e teórico de um conhecimento que acontece na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão na Universidade, em diálogo com a Educação Básica. O que nos alimenta é a busca, a caminhada comprometida com uma Educação e uma Psicologia que se modifiquem na interculturalidade, em especial com os povos indígenas. Afirmamos e nos confirmamos em pesquisas e métodos de ensino que propõem a vivência como mediadora do saber. Assim, alimentados por tantos anos de pesquisas com os Guarani e Kaingang e de estudos e vivências com a Educação Biocêntrica, assumimos em nossas metodologias de investigação acadêmica, em nossas aulas nos Programas de Pós-Graduação em Educação e Psicologia e nas escolas de Educação Básica, um movimento de pensar a partir da vivência, do corpo, da espiritualidade, do sensível e da interculturalidade, concebendo a vida como centro de nossas pesquisas, das ações de extensão e dos modos de ensino. Nos textos escritos e desenhados, trazemos concepções complexas de Educação, que perpassam práticas e reflexões encarnadas em vivências corporificadas em sonhos profundamente pessoais e coletivos. Acreditamos que nossas pesquisas passam por cada um de nós, pelo mais profundo desejo de conhecer a nós mesmos e, por isso, ganham respaldo nos coletivos que nos habitam e nos interrogam sempre, sobre os sentidos de nossas ações e pensamentos no mundo. Vivência, diálogo e reflexão com os indígenas e não indígenas e com a Educação Básica orientam esta produção, interrogações e compromissos que permeiam os círculos de cultura de argila, da música, das mandalas, das narrativas ancestrais indígenas nas aulas de Pós-Graduação, nas Escolas Básicas, nos cursos de extensão, na Graduação em Psicologia e no tekoa, termo Guarani para denominar o espaço comunitário, educativo, territorial e simbólico. Concepção esta que está sendo referência para nos constituirmos enquanto coletivo que assume o lugar de reeducação, de não saber e de movimento a um caminho de um passado ancestral indígena que necessita ser acolhido e recuperado em nossas espiritualidades e nosso pensamento, com todos os conhecimentos negados que emergem a partir deste ato. Cada escrita é uma presença que traz tantas ausências. Cada capítulo, se assim queremos nominar, é um corpo que busca no coletivo a sustentação da palavra escrita e falada de cada autor e autora, pesquisador e pesquisadora. Somos únicos e somos muitos. Nossos rostos, sotaques, peles, emoções, investigações evocam diversidades, interculturalidades, misturas, diferenças e muita sensibilidade e trabalho. Este livro é uma forma de nos comprometer mais e de mostrar que não existe pensamento sem corpo, nem palavra sem alma, como nos ensinam os Guarani. Cada ideia é um som que esperamos que reverbere em cada um de nós como sons ancestrais que ecoam para um chamado único e tão pertencente à totalidade.